Como dissemos nas crónicas anteriores que durante os meses de Fevereiro e Março do ano de 1912, estavam decorrer as operações contra o reino de Manufahi.
O avanço das forças governamentais apoiadas por arraiais dos comandos militares ia tornando mais difícil a vida dos timorenses em rebelião. As áreas de Cablac ocupadas pelos “manufaistas” iam-se tornando mais estreitas. Dom Boaventura da Costa, a família e muito povo encontravam-se entrincheirados nas fortalezas de Riac e leo-Laco.
As consequências da guerra eram várias: aldeias abandonadas, casas incendiadas, roubo de gado; abandono de culturas (café, milho e arroz), doenças, fome, e morte. Tanto da parte dos rebeldes como doas forças governamentais havia muitos feridos e dezenas de mortos. Fizeram-se dezenas de prisões. Na Praça de Díli, em 1912, havia mais de 4 mil prisioneiros na cadeia.
Mas, não era só à volta de Cablac que decorriam as operações contra os rebeldes. Na região de Bobonaro as forças do governo realizaram vários “raids” contras as populações. Houve operações à volta de Bobonaro, Atabae, Atsabe, Hatolia e Cailaco. Essas operações tinham o objectivo de eliminar possíveis revoltosos e de impedir a sua passagem até Manufahi. Mesmo assim, os portugueses registaram entre as suas fileiras, 30 mortos e uma centena de feridos.
Sucedeu, então que em vários reinos, sobretudo, da parte ocidental, muitas pessoas começaram abandonaram as suas aldeias, procurando refúgio nos reinos vizinhos ou no território de Timor holandês.
Famílias inteiras de Atsabe, Leimean, Deribate Cailaco dirigiam-se para Memo e para a fronteira. O êxodo destas famílias ocorreu nos dias 9 e 10 de Maio de 1912. Foi nesta ocasião, que o régulo de Memo, Bere-Tali perpetrou o massacre contra os fugitivos, nas margens do rio Malibaca. Segundo o Relatório das Forças da Fronteira, o régulo e os seus homens mataram mais de 100 pessoas, entre as quais 6 chefes. Nos fins de Maio, na povoação de Sadi, no território holandês, havia 2.000 refugiados timorenses.
Conta-se que em Atsabe, as pessoas preferiram morrer de fome e de sede nos seus esconderijos a entregar-se às forças governamentais. Conta-se ainda que os timorenses fiéis ao governo, numa das suas campanhas pelas aldeias, cortaram mais de 300 cabeças aos seus inimigos.
O corte de cabeças era um acto de valentia. Morto o inimigo, a cabeça é decepada e levada para o acampamento. Os acampamentos das tropas em Maubisse estavam enfeitados com cabeças cortadas.
No mês de Abril de 1912, Dom Boaventura escreveu ao governador Filomeno da Câmara apresentando as condições da sua rendição. Mas o malea boot (embot) não fez caso do pedido e continuou a reforçar as suas posições no terreno.
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