Pelo Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
A segunda fase ou o segundo período da guerra durou cerca de quatro meses (Fevereiro a Junho).
Os “rebeldes” tinham atacado várias povoações com o intuito de travar o
avanço das forças do governo. Nalgumas zonas por eles controladas haviam
recolhido mantimentos, bens e gado no alto nas serras (fohon tutun).
O governador Filomeno da Câmara e os seus homens estavam decididos em
avançar para Cablac combatendo os rebeldes no seu terreno. Mas devido à
configuração do terreno e à existência de vários grupos de rebeldes espalhados
pela região, foi preciso fazer primeiro o reconhecimento do terreno. As forças
governamentais avançavam para Cablac em três frentes. Da zona Leste, com arrais
comandados pelo capitão José Faure da Rosa; da zona oeste, os arraiais sob o
comando do tenente António Valente de Almeida; da zona norte, o próprio governo
e o seu quartel-general.
Nos dias 28 e 29 de Fevereiro e no dia 1 de Março de 1912, o
reconhecimento do terreno foi efectuado pelo batalhão do Tenente Almeida e do
padre Manuel Alves Ferreira, missionário de Maubara. Perto de Maubisse,
travou-se o combate e uma bala inimiga tirou a vida ao padre Ferreira. O padre
expirou às duas de madrugada do dia 2 de Março.
No dia 3, sai de Soibada, o destacamento do capitão Faure da Rosa ia
exploras as regiões de Terás. Nesse destacamento ia como voluntário o padre
Manuel Laranjeira, missionário de Soibada.
Entretanto na zona norte, o governador ordenava o reconhecimento das
regiões de Manucate, Hatobessi, Maulau, Lequidoe e Turiscai.
No dia 7 de Março realizou-se a exploração das regiões de Manucate.
Nesse tempo os rebeldes dominava as povoações de Tumau e Hatobessi. No dia 15,
as forças governamentais fazem assalto ao monte de Tumau. Nesse monte os
timorenses tinham levado para lá todos os seus bens, incluindo o gado: búfalos,
cavalos e cabritos. Pela força das armas, os rebeldes foram obrigados a sair
dos esconderijos deixando para trás muitos animais. Os moradores dos arraiais
apoderaram-se de 112 búfalos e de alguns cavalos.
No dia 25 de Março, as tropas de capitão Faure da Rosa, depois de
renhido combate, ocupava Fatu-Boi (Fatu Boe).[1]
Nesta campanha as forças governamentais eram formadas por arrais de Samoro sob
o comando de Liria Vidal Sarmento, e os arrais de Vemasse, Laleia, Cairui. Luna
de Oliveira descreve assim Fatu-Boi, depois dos combates: “Fatu-Boi, posição naturalmente inexpugnável, sulcada em sucessivas
linhas defensiva, biseladas na rocha, atravanca de arvoredo frondoso, era um
cemitério ao ar livre. O cheiro pestilento, mal inumados empestava o ar.
Cabeças dos mortos espreitavam á flor da terra, tal fora a pressa com que os
enterraram” (Luna, III, p. 122). Depois dessa acção as forças tomaram sem
dificuldade Dotic e Sarim[2].
O chefe do Suco Laca-Dala-Nai sucumbiu ao combate. A cabeça foi decepada e
levada ao acampamento dos malae como
troféu. Nesse período ocupou-se Fatuberliu. No mês de Abril de 1912, as regiões
a leste de Same estavam submetidas (Alas, Bibiçuço).
Na zona oeste alguns reinos estavam em rebelião. O reino de Cailaco persistia
na rebelião e tentava seduzir outros reinos, como o de Atabai, o régulo
Bere-Talo. Contra Bere-Talo, o capitão Fonseca Cardoso, comandante militar de
Batugadé organizou uma campanha que decorreu entre os dias 3 e 10 de Março. O
destacamento comandado pelo sargento Humberto Maria Fernandes era composto por
35 moradores.
Na zona sul (Suro) o destacamento composto por 50 soldados, 2
voluntários e 107 moradores controlavam as regiões de circunvizinhas à vila não
impedindo a incursão dos “manufahistas.”
Entre os dias 17 e 27 de Março Atabai era atacada pelas forças do
Capitão Fonseca Cardoso. Nessa operação participaram 456 homens: soldados do esquadrão
de cavalaria da fronteira, soldados moçambicanos e um pequeno arraial de
moradores de Balibó. Os rebeldes de Cailaco não queriam render-se pois
declaravam que preferiam morrer nas montanhas e nos rios do que serem
portugueses.
Em Manufahi, Dom Boaventura da Costa Souto Maior sentia-se mais isolado
pois não recebeu mais adesões de novos reinos. Os seus homens, além de
continuarem em sentinela nas zonas fronteiriças, iam consolidando as fortificações
de defesa em Riac e Leo-Laco.
Mas na segunda metade do mês de Março de 1912, o governo viu revoltar-se
Dom João da Cruz Hornay, régulo de Ambeno. A revolta de Ambeno será o tema do
capítulo a seguir.
Porto, 6 de Janeiro de 2012.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
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