Pelo Dom Carlos
Filipe Ximenes Belo
Neste mês de Dezembro de 2011, completam-se os cem anos do início do
conflito de Manufahi. O começo da guerra de Manfahi teve a sua origem na morte
do comandante de Same tenente Luiz Álvares da Silva e de europeus (três
militares e um civil) dentro da tranqueira de Same e do comandante e
Faturberliu.
Como é que tudo começou?
Em Dezembro de 1911, era comandante militar de Same o tenente Luiz
Álvares da Silva; e era régulo (Liurai) de Manufai Dom Boaventura da Costa.
Conta-se que havia vários dias que Dom Boaventura não aparecia no
Comando apesar de várias vezes ter sido convocado pelo tenente Silva. Dias
antes, o comandante até mandara à casa do liurai (na localidade de
Bandeira,) um soldado português, velho no Comando, amigo pessoal e compadre de
Dom Boaventura. Esse soldado foi retido e depois assassinado.
Na manhã do dia 24 de Dezembro de 1911, véspera de Natal, o tenente Luís
estava na sua residência e acabava de tomar banho. Apareceram no comando uns
homens mandados por Dom Boaventura da Costa. Um ia amarrado e outros
seguiam-no. Davam a entender que iam apresentar uma queixa ao comandante. O
Tenente ao ver aquilo saiu para ouvir a queixa do que ia amarrado. Mas, de
repente caíram golpes de catanadas sobre o comandante. Este tentou reagir
correndo para dentro em busca da uma arma. Mas, tudo foi inútil. Os homens perseguem-no
e cortam-lhe cabeça. A esposa do tente Silva estava dentro da casa com o filho
ainda bebe. Os homens arrastam-na para fora e colocam no regaço a cabeça do
marido. No interior da residência os timorenses reúnem os móveis sobre os quais
colocam o cadáver do tenente Luís Silva. Entretanto mais três portugueses são
mortos: dois soldados e um civil.
O irmão do régulo telefona ao Comandante de Fatuberliu Ferreira: “Diz o
senhor comandante que, sendo amanhã Natal, o convida vir a Same, passar as
festas como seu hóspede”. O comandante parte para Same no dia 25, mas foi morto
perto da ribeira Sui.
Entretanto, Dom Boaventrua manda um guarda-fio acompanhar a mulher do
malogrado tenente para Maubisse.
A notícia do assalto ao Comando de Same e a morte dos seis portugueses
espalha-se pelas aldeias de Same. E de Maubisse, os ecos dos trágicos
acontecimentos chegam a Dili.
Em resposta aos actos de rebelião, o governador Filomeno da Câmara
mobilizou soldados, moradores e auxiliares que atacaram os redutos dos “revoltosos”
desde Janeiro de 1912 até Outubro do mesmo ano. O resultado dessa campanha foi
a prisão de Dom Boaventura e a sua consequente destituição no dia 26 de Outubro
de 1912.
Os motivos remotos desta acção:
a) - Motivos nacionalistas: expulsar os portugueses de Timor. “Timor era
para os Timorenses”. Rebeliões de 1895. Desde os tempos de Dom Duarte, pai de
Dom Boaventura que os povos de Manufahi estavam rebelados contra os
Portugueses. A forçada pacificação foi levada a cabo pelo governador José
Celestino da Silva.
Desde tempos recuados que alguns reinos não aceitavam o domínio dos “malae
muitin.” Basta recordar o pacto de 1719, cujo actor principal era o régulo
de Camanasa, e a consequente guerra de Cailaco (1725-1726).
b) - Motivos políticos: A 5 de Outubro de 1910, deu-se a implantação do
regime republicano em Lisboa. Os régulos timorenses que sempre juraram
fidelidade ao rei de Portugal, não aceitaram a mudança do regime e a troca de
bandeira. A bandeira real (azul e branca) pela nova bandeira
(verde-rubra).Alguns liurais temiam que com o nome regime eles fossem
destituídos e perdessem as regalias.
Diz-se que quando em Outubro 1910, os régulos foram a Díli para assistir
à cerimónia da implantação da República, já havia um pacto para uma possível
revolta. E que esses régulos eram incitados por timorenses assimilados ou
civilizados, entre os quais se contava um mestiço chamado Domingos de Sena
Barreto que era filho de um goês e de uma chinesa; e incitados por europeus
ligados à loja maçónica de Díli e que estavam descontentes com o Governador.
Da parte das autoridades portugueses, forjou-se outro motivo: a
implicação dos holandeses que eram monárquicos e que queriam também expulsar os
portugueses de Timor, para poderem dominar toda a ilha.
c) - Motivos económicos:
As rebeliões que ocorreram em Timor, nos reinos das Províncias do
Bellos e de Servião, tiveram a sua origem principal na cobrança de
impostos.
Parecia que em 1911 o governo ia aumentar os impostos. A capitação
deveria passar de uma pataca para duas patacas. O corte de uma árvore de
sândalo seria taxado de duas patacas. Os coqueiros e os gados seriam
recenseados. Seria estabelecido um imposto de 5 patacas aplicado sobre os
animais abatidos por ocasião das cerimónias (enterros, construção de uma
lulic e realização de estilos).
Foram estes os principais motivos de descontentamento por parte dos
régulos que depois se uniram em guerra contra as autoridades.
Para o governo português e para muitos timorenses, o Natal de 1911 foi
um Natal triste!
Porto, 22 de Dezembro de 2011.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
Nota de Informasaun: Atu foo onra ba istoria centenariu Luta Dom Boaventura, ohin 24/11/2012, Jornal Tempo Semanal husu ona autorizasaun husi Amo Bispo Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, atu Tempo Semanal bele publika hikas nai bispo ninia artigu sira iha online no iha Jornal iha edisaun semana oin ninian. Nai Bispo hatudu ninia laran luak hodi simu pedidu Jornal ne'e ninian ho tempu badak de'it Dom Belo fo duni autorizasaun no haruka konteudu artigu ne'ebe Nai Bispo prepara nanis ona. Redasaun Tempo Semanal ho respeitu tomak hakarak hatoo agradecimentu wain ba Amo Bispo Dom Carlos Filipe Ximenes Belo ninia laran luak no espera katak sani sira bele akompania istoria Funu Manfahe ninian too rohan.
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