Pelo Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
Como dissemos nas crónicas anteriores que durante os
meses de Fevereiro e Março do ano de 1912, estavam a decorrer as operações
contra o reino de Manufahi.
O avanço das forças governamentais apoiadas por
arraiais dos comandos militares ia tornando mais difícil a vida dos timorenses
em rebelião. As áreas de Cablac ocupadas pelos “manufaistas” iam-se tornando
mais estreitas. Dom Boaventura da Costa, a família e muito povo encontravam-se
entrincheirados nas fortalezas de Riac e leo-Laco.
As consequências da guerra eram várias: aldeias
abandonadas, casas incendiadas, roubo de gado; abandono de culturas (café,
milho e arroz), doenças, fome, e morte. Tanto da parte dos rebeldes como doas
forças governamentais havia muitos feridos e dezenas de mortos. Fizeram-se
dezenas de prisões. Na Praça de Díli, em 1912, havia mais de 4 mil prisioneiros
na cadeia.
Mas, não era só à volta de Cablac que decorriam as
operações contra os rebeldes. Na região de Bobonaro as forças do governo
realizaram vários “raids” contras as populações. Houve operações à volta de
Bobonaro, Atabae, Atsabe, Hatolia e Cailaco. Essas operações tinham o objectivo
de eliminar possíveis revoltosos e de impedir a sua passagem até Manufahi.
Mesmo assim, os portugueses registaram entre as suas fileiras, 30 mortos e uma
centena de feridos.
Sucedeu, então que em vários reinos, sobretudo, da
parte ocidental, muitas pessoas começaram abandonaram as suas aldeias,
procurando refúgio nos reinos vizinhos ou no território de Timor holandês.
Famílias inteiras de Atsabe, Leimean, Deribate
Cailaco dirigiam-se para Memo e para a fronteira. O êxodo destas famílias
ocorreu nos dias 9 e 10 de Maio de 1912. Foi nesta ocasião, que o régulo de
Memo, Bere-Tali perpetrou o massacre contra os fugitivos, nas margens do rio
Malibaca. Segundo o Relatório das Forças da Fronteira, o régulo e os seus
homens mataram mais de 100 pessoas, entre as quais 6 chefes. Nos fins de Maio,
na povoação de Sadi, no território holandês, havia 2.000 refugiados timorenses.
Conta-se que em Atsabe, as pessoas preferiram morrer
de fome e de sede nos seus esconderijos a entregar-se às forças governamentais.
Conta-se ainda que os timorenses fiéis ao governo, numa das suas campanhas
pelas aldeias, cortaram mais de 300 cabeças aos seus inimigos.
O corte de cabeças era um acto de valentia. Morto o
inimigo, a cabeça é decepada e levada para o acampamento. Os acampamentos das
tropas em Maubisse estavam enfeitados com cabeças cortadas.
No mês de Abril de 1912, Dom Boaventura escreveu ao
governador Filomeno da Câmara apresentando as condições da sua rendição. Mas o malea boot (embot) não fez caso do
pedido e continuou a reforçar as suas posições no terreno.
No dia 29 desse mês chegavam a Díli mais reforços.
Tinha atracado um navio português que levava a 9ª Companhia de soldados
moçambicanos, (seis oficias, 14 sargentos e 233 soldados). Metade dessa
companhia seria encaminhada para Suro, via Liquiçá, Hatolia e Atsabe.
Porto, 12 de
Janeiro de 2012.
Dom Carlos
Filipe Ximenes Belo
No comments:
Post a Comment